
Racismo
Começando pelo começo: para que possamos trabalhar na resolução de um problema, precisamos reconhecer que existe o problema. O Brasil é um país racista (uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo de 2003 aponta que 87% da população brasileira afirma que o Brasil é um país racista). Mesmo que você não se considere racista ou que julgue que no seu meio de convivência não existe racismo, as suas experiências pessoais não representam o que ocorre em toda uma nação. Aliás, se você acredita que nunca presenciou racismo, muito provavelmente é porque você não reconhece certas práticas como racismo. Mas não tem problema, nós vamos te ajudar a identificar o racismo e então você poderá fazer uma reflexão sobre seu comportamento e o das pessoas com quem você convive.
Dados do IBGE de 2010 apontam que 51% da população brasileira é negra, o que corresponde a cerca de 97 milhões de pessoas e faz com o que o Brasil seja o maior país do mundo em população afrodescendente fora do continente africano. O Brasil foi o país que mais importou africanos para serem escravizados e foi o último país a abolir a escravidão.
O racismo acontece e existe em diferentes níveis: pessoal, interpessoal, institucional e estrutural.
Discriminação Racial x Racismo
De acordo com a ONU – Organização das Nações Unidas, discriminação racial significa qualquer distinção, exclusão ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem ética ou nacional que prejudique os direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra área da vida pública.
Já o racismo é a convicção de que existem raças superiores em relação à outras, ou seja: a crença deque características físicas como, por exemplo, a cor da pele, tornam algumas pessoas melhores que as outras.
Racismo reverso existe?
Conforme já mencionado, o racismo é caracterizado pela opressão de uma etnia com mais “poder” sobre a outra. Quando se fala de racismo reverso, se assume a ideia de que o grupo desfavorecido está oprimindo seu opressor. Um grupo étnico que sofreu mais de 300 anos de escravidão, fazendo parte de um dos últimos países do globo a abolir a escravatura – fato que tem apenas 130 anos -, certamente não teria a mesma força que seu opressor.
Portanto, não existe racismo reverso.
Fonte: Politize!.
Negro ou Preto?
Não há consenso. Algumas pessoas, institutos e instituições defendem o uso do termo negro, enquanto outras defendem o uso do termo preto.
Para o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Negros correspondem ao somatório de Pretos e Pardos. Neste caso, os pretos são aqueles que possuem a pele mais retinta (ou mais escura) e os pardos aqueles que possuem a pele menos retinta (ou mais clara).
De acordo com Heloise Costa, do Instituto Identidades do Brasil, se você é branco e não tem intimidade com a pessoa, o termo aconselhado a ser utilizado é Negro.
Agora se você tem intimidade com a pessoa, pergunte à ela qual o termo que ela prefere ser referida e se sente mais à vontade.
Racismo Institucional
De forma resumida, o racismo institucional coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios gerados pelo Estado (poder público) e/ou por demais instituições e organizações.
O racismo institucional se manifesta através da limitação ao acesso a serviços essenciais, e/ou ao acesso de menor qualidade ao serviço e através da perpetuação da condição de desigualdade.
Racismo Estrutural
Essa forma de racismo é de difícil percepção e por isso tende a ser ainda mais perigosa. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplo falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano que tendem a reforçar essa forma de racismo, visto que promovem a exclusão e o preconceito mesmo que indiretamente.
Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como por exemplo: “denegrir”, "serviço de preto", "da cor do pecado", "inveja branca", "cabelo bombril" e outras. Também acontece quando fazemos piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfiamos da índole de alguém por sua cor de pele. Para entender melhor porque parar de usar essas expressões clique aqui.
Outra forma de racismo estrutural muito praticado, mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se referir a negros ou pretos, como as palavras “moreno”, “mulata”, “pretinho”, “escurinho” e “pessoa de cor”. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas, em geral, ao utilizar as palavras “negro” ou “preto” pelo estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos.
Fonte: Brasil Escola.
“Não sou racista, então o que eu tenho a ver com isso?”
Para discutir esse tema, vou tomar emprestadas as palavras do antropólogo e professor universitário José Renato Baptista, com algumas poucas intervenções. Para ver a matéria completa produzida por ele clique aqui.
Você que não se questiona, que não se pergunta, que acha que não é com você, você tem tudo a ver com isso. Principalmente se você é branco: porque você ocupa um lugar histórico de opressão neste país há mais de 500 anos. Porque você tem privilégios concedidos pela sua condição de cor há séculos. Ignorar isto é fingir que o mundo é cor de rosa e as relações são fraternas, quando o conflito existe e ameaça e afeta a todos nós.
Ignorar que neste país ser branco é uma forma de obter privilégios, é como disse uma amiga, virar a cara para o lado, é fingir que não ocorre em nosso país o extermínio continuado de jovens negros, posto que das vítimas de homicídio no Brasil, em cada dez sete são negras. Fingir que não sabe que negros recebem menores salários e tem menos postos de comando e direção na iniciativa privada. Fingir que não sabe que o tempo escolaridade de negros e pardos é inferior ao dos brancos.
Disseram que eu fui racista. O que fazer?
1. Aceite: mesmo que você não tenha tido a intenção de ofender a pessoa e/ou que não entenda a sua atitude ou fala como racista.
2. Peça desculpas: mesmo sem intenção, a sua fala ou atitude ofendeu ou magoou uma pessoa.
3. Entenda: se você se sentir à vontade, pergunte para a pessoa que se sentiu ofendida o porquê dela considerar o que você fez como racismo. Isso vai te ajudar a entender o ponto de vista dela e te ajudar a refletir sobre outras atitudes suas, que talvez possam ofender outras pessoas.
4. Reflita: pense nas suas palavras e atitudes do dia-a-dia e procure identificar àquelas que sejam ou possam ser ofensivas e trabalhe para mudar seu comportamento. Como vimos, existem muitas expressões do dia-a-dia que não são legais e que não nos damos conta.
Racismo x Injúria Racial
As informações seguintes foram retiradas do site do Catraca Livre. Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado. No Brasil, há diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é direcionado à coletividade.
Racismo é a conduta discriminatória, em razão da raça, dirigida a um grupo sem intenção de atacar alguém em específico. Seu objetivo é discriminar a coletividade, sem individualizar as vítimas. Esse crime ocorre de diversas formas, como a não contratação de pessoas negras, a proibição de frequentar espaços públicos ou privados e outras atividades que visam bloquear o acesso de pessoas negras. Nesse caso, o crime é inafiançável e imprescritível.
Quando o crime é direcionado a uma pessoa, ele é considerado uma injúria racial, uma vez que a vítima é escolhida precisamente para ser alvo da discriminação. Essa conduta está prevista no Código Penal Brasileiro, artigo 140, parágrafo 3, como um crime contra a honra, sendo o fator racial uma qualificadora do crime.
É importante ressaltar que em casos de racismo, além da própria vítima, uma testemunha pode denunciar o crime. O mesmo não vale para o crime de injúria racial, pois somente a vítima pode se manifestar sobre o ataque na justiça. Para denunciar casos, podem ser procuradas delegacias comuns e delegacias especializadas em crimes raciais como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) em São Paulo.